A confusão de lábios denominada beijo é requisitada por vários tipos de pessoas. Doutores e analfabetos buscam boquinhas por aí. Na web centenas de tutoriais ensinam melhorias nos câmbios labiais. São festas e mais festas com o mesmo intuito. Namoros, noivados, casamentos, divórcios, quanto da nossa vida gira em torno de beijar alguém?
Conta um dicionário, beijar é “Enfiar a língua na boca.” Falando assim parece uma violência. Me passa a sensação de que a boca está fechada, vai chegando a língua e força uma entrada, ultrapassa os dentes e invade a garganta agressivamente. Urgh!
Vamos, então, redefinir tal ato fantástico.
Beijar é falar com duas línguas, misturar movimentos iguais aos usados para emitir palavra. Por isso, é necessário ter articulação, desenvoltura e ouvido. Uma boa audição te ajudará a entender sons da outra boca, e poderá correspondê-la em sincronia.
Não adianta buscar exercícios individuais para se aperfeiçoar nesta prática. Aqui o trabalho é sempre em grupo. Não cabe solidão, é uma técnica fina e delicada. Tão humana que proponho uma nova classificação de seus praticantes.
Se ao escrever um poema, o poeta busca sensibilizar seu leitor, tocá-lo no íntimo e fazê-lo sentir um sopro na alma através de palavras, e estas são essencialmente produzidas pelas línguas… Quem beija também é poeta, pois busca provocar sensações semelhantes com os mesmos artifícios.
O beijo é um poema de dois autores, seus versos são ora metrificados, ora livres, mas nunca irrelevantes. Mesmo que se diga que um fora melhor que outro, todos, sem exceção, originam algo.
E por vezes, são os mesmos efeitos de um belo soneto.
Portanto, beija. Ou faça poesia. Ou melhor. Faça poesia e beija.
Encontra poeta ou poetisa que te faça verso tal, tão bem feito, que pra sair de tua boca… Nunca mais haverá jeito.